quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O berço


Não soube diferenciar, pois nasceu com o privilégio de ter mais de uma. O que era bastante complicado, já que o que era normal não lhe parecia convir. Não era ruim, era um tanto mágico. Podia escolher para quem contar os segredos e a quem pedir proteção. Cada uma trazia consigo um espetaculo particular, um mundo inteligente e austero, outro espontaneo e juvenil, tudo o que só ela sabia admirar, e com seus olhos recheados de folclore e música, amar. Não admitia contuto, que houvesse defeito, apenas incompatibilidades óbvias mediante assuntos que deveras não compreenderiam como julgar.
De fato, sua história causava estranhamento, pois como pode ter duas, se tantos outros por aí, queriam apenas o afago de uma? E eles contêm-se aos rígidos corações prendidos na consubstancial e liberta rua, que os cerca, mas não os acolhe.
(Ela se olhou no espelho e se sentiu feliz, guarda no coração duas almas que inflam seus pulmões de alegria. Sonha um dia poder ser como elas, mas em apenas uma. Não quer dividir tantos sentimentos, percebe que pode transmiti-los a muitos sem precisar que procurem o que noutra uma falta. Queria também trazer carinho aos descontentes que tem frio, sono, cansaço e dúvida.)
Quanto a elas, não consegue de forma alguma separá-las agora. São como uma obra divina. Em sua idéia, são perfeição. Separadas são o caos. Não consegue viver sem uma ou outra, portanto deve mantê-las ao alcance.
Seu assombroso privilégio a tornou filha eterna. E eternamente grata.
Fala com seus anjos e repete sem exitar: Leva essa mensagem ao meu Pai, obrigada por deixar duas mães, quando podia ser uma ou nenhuma, tanto assim amar.

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