terça-feira, 8 de setembro de 2009

De Chico Buarque de Holanda - Não sonho mais



Hoje eu sonhei contigo, tanta desdita, amor nem te digo/Tanto castigo que eu tava aflita de te contar/Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha/E baba na fronha, e se urina toda e quer sufocar/Meu amor vi chegando um trem de candango/Formando um bando mas que era um bando de orangotango pra te pegar/Vinha nego humilhado, vinha morto-vivo, vinha flagelado/De tudo que é lado vinha um bom motivo pra te esfolar/Quanto mais tu corria mais tu ficava, mais atolava/Mais te sujava, amor, tu fedia, empesteava o ar/Tu que foi tão valente chorou pra gente, pediu piedade/E, olha que maldade, me deu vontade de gargalhar/Ao pé da ribanceira acabou-se a liça e escarrei-te inteira/A tua carniça e tinha justiça nesse escarrar/Te rasgamo a carcaça, descendo a ripa, viramo as tripas/Comendo os ovos, ai, e aquele povo pôs-se a cantar/Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha/E baba na fronha e se urina toda e já não tem paz/Pois eu sonhei contigo e caí da cama/Ai, amor, não briga, ai, não me castiga/Ai diz que me ama e eu não sonho mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário