quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Homem



O homem parado, sentado ali na esquina, bem quieto, chamou minha atenção logo cedo. Descia de carro uma rua estreita e o vi com as roupas esfarrapadas olhando profundamente o asfalto. O olhar de certo mais perdido que o meu, fez atinar nesta minha mente perguntas que só o arco da velha poderiam responder. Enquanto eu me preocupava com minha vida, lá estava um homem que mal sabia se tinha vida pra se preocupar. Devia estar mais de dias, acho que mês, mas pode ser até ano, sem tomar um banho decente que fosse. É que eu estranhei tamanha ignorância a nossa ao perceber que quando ele se levantou pra pedir sua esmola do dia (santo salário do mês), ele mesmo parou e ficou observando os carros, inclusive o meu, a aguardar o sinal abrir. Os olhos não eram aqueles de clemência não. Nem de desejo material. Eram olhos parados, frios, que nada entendiam, e que não queriam estar ali. Daí, coloquei a primeira marcha e sumi pensativa me dando conta que esqueci o que ia fazer, dei a volta. Chegando em casa quebrei o porquinho, fui a pé até uma mercearia e depositei 8 moedas de valores que não lembro na caixinha de doações para um Hospital, não tenho certeza do por que, nem quando, mas no futuro, um número na prancheta me reservará um lugar.
Se estiver certa, estarei um dia, como muitos, inválida numa cama com o mesmo olhar, compartilhando de um sentimento similar, e fadada ao destino aparentemente cruel, não querendo estar ali e ao mesmo tempo, não podendo não estar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário