terça-feira, 27 de abril de 2010

O Tendão do Orgulho





Uma história me veio à memória hoje pela manhã e poder compartilhá-la dessa maneira reduz um pouco a intensidade moral que ela produziu em mim.
Conhece a história do Tendão de Aquiles? Esqueça-a. Minha versão, por necessidade, alterou sua moralidade.
Imagine você deparando-se neste momento com Aquiles. Homem musculoso, semideus, bonito, corajoso, ou seja, toda virilidade de forma intensa e exótica inserida em cada milímetro de seu corpo. Aquiles é a idéia mais próxima das ilusões humanas e do estereótipo masculino que dificilmente leva à memória que até mesmo Narciso não era tão perfeito como achava.
A trágica flechada no tendão de Aquiles, em minha análise pessoal, não representa menos que uma ofensa e afronta ao orgulho masculino. Toda representatividade que esse semideus podia conferir ao expor seu corpo e suas inúmeras qualidades, vão por terra quando uma flecha acerta-lhe bem no tendão.
Ocorre que duvido muito se neste caso foi preciso ser tudo isso por fora, tanta massa, tanta carne, tanta beleza; pois quando o que lhe faria a diferença era apenas algo abstrato (ser ágil; ser racional), como pode então perder com tamanha rapidez todo esse vigor?
A partir daí, enfim, tem-se o reflexo no espelho d’água de Narciso e o corpo de Aquiles, representando todos os desejos ocultos e desumanos, criados por humanos, mas artificiais, que nos garantem esta frígida felicidade momentânea.
O Ser é! Mas o Ter é mais ainda!
Não nos vemos mais no espelho, mas olhamos com gratidão um reflexo deturpado, confuso de nós mesmos, andando sem rumo por aí, mas com a forma de nossos desejos. Desejos criados. Desejos que nos iguala, que nos fascina, e que nos corrompe, nos explora, nos faz sofrer para alcançá-los.
Quando tudo se perde, não há mais nada o que preencher. Olhe para o lado neste momento e entenda que, no fim, a forma se contrairá com ou sem defeito, e tudo o que sobrará é pó. Poeira no ar.

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